quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ser psicoterapeuta! Como é a atuação do psicoterapeuta?




Ser psicoterapeuta é entregar-se à escuta e ao acolhimento das necessidades, das dores e ao crescimento humanos. Quando somos muito jovens e inexperientes, queremos curar tudo e muito rápido. Depois, mais maduros percebemos mais claramente os limites de nossa atuação e os dos pacientes. Há prazer pela evolução das pessoas e também pelo efeito multiplicador que isto causa , ou seja: quando alguém se organiza melhor e suporta as tensões do viver, os outros ao seu redor também recebem essa influência saudável.
A auto-observação e a formação são continuas e árduas, porém sem examinar a si mesmo é impossível auxiliar alguém a se conhecer em profundidade. Isto quer dizer procurar o próprio desenvolvimento ao longo da vida, que precisa ser vivida para além dos conhecimentos teóricos. Tanto Sigmund Freud quanto Carl Jung, contemporâneos aliás, eram defensores fervorosos da análise pessoal de quem se aventurasse a desvendar a alma humana. Alertavam para a virulência ao qual o psicoterapeuta está exposto em seu trabalho cotidiano com o inconsciente.


Psicoterapeutas guardam segredos e preservam a sensibilidade, compartilhando experiências nunca antes reveladas. Privilégio nosso, pois somos estimulados por esses segredos, capazes de despertar impulsos muitas vezes relegados a um segundo plano em nossas vidas. Terapeutas oferecem um lugar físico e também um lugar psíquico onde pessoas possam morar enquanto as transformações não chegam.

È possível experimentar uma grande satisfação ao vermos alguém abrir suas janelas internas, descobrindo novas possibilidades assim como suportar com pacientes o fardo de suas angustias, duvidas e energia estagnada. Cada paciente é um desafio, uma oportunidade e se a terapia funciona, ambos, paciente e terapeuta, crescem.

Além de uma vida pessoal rica em relações, a formação de um terapeuta é realizada nos bancos acadêmicos ou, mais informalmente, porém sem perda da profundidade nas supervisões e grupos e estudos onde também aprendemos a ouvir nossos colegas, sua visão particular e original, fonte de todo e qualquer respeito pelas diferenças.

Temos escolas de Psicologia competentes, mas ainda temos um trajeto a ser percorrido no sentido de oferecer ás pessoas que aspiram por esta profissão o leque amplo de possibilidades teórico-práticas existentes. O desejo de ser um psicoterapeuta corresponde a necessidades muito profundas de conexão e expressividade cuja função e finalidade requerem um encaminhamento ponderado e libertário.

Denise M. Molino

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Auto Sabotagem - como é isso na prática ?


Gostaria de agradecer a atenção e o carinho do meu amigo Filipe De Lima Reis do Blog O Sevandija pela dica do tema de hoje! 

O que é a auto sabotagem? Como acontece a auto sabotagem?

Muitas vezes temos a segurança de que somos donos do nosso próprio nariz, que somos independentes, achamos que fazemos nossas escolhas e opções de forma consciente. Mas escolhemos racionalmente e seguimos por caminhos de vida, tomamos atitudes e assumimos compromissos que, muitas vezes nos levam a fazer um trajeto mais longo do que o necessário, ou mesmo que desvie do objetivo principal. Falo especificamente das situações em que paramos pra pensar e percebemos que estamos perdendo tempo, que não estamos no trabalho que gostaríamos, que não estamos vivendo a vida que queríamos, e, na verdade bastaria uma atitude, uma decisão, uma pequena mudança em alguma área da vida, ou em nós mesmos, e tudo estaria resolvido. 

Exemplos : uma mulher casada, aceitando a traição do marido, um bancário que apesar de crises de gastrite já ulceradas não conseguia se desligar e mudar de emprego, mas principalmente, aceitava a tirania de seu encarregado. Uma senhora de 43 anos que queria conquistar um amor, mas sempre se envolvia com homens casados, outra que não conseguia assumir um compromisso serio com alguém, tinha relacionamentos superficiais e, sempre, como ela dizia “acabava o amor” quando sentia estar vinculando-se. Todos estes casos têm sua especificidade, suas causas únicas, são patologias “personalizadas”, e diferentes uma das outras. Em alguns casos a pessoa não se envolve por medo, por culpa, por falta de confiança em si mesmo, como também em outros casos não se consegue conquistar o sucesso profissional por estes motivos, mas atrás de tudo isso há algo em comum em todos eles: por que mesmo querendo muito alguma coisa, nos afastamos dela? A resposta está no inconsciente – objeto de estudo da psicanálise. Esta entidade com certa independência que muitas vezes nos controla, nos burla, nos “sabota”. 

Um paciente, Marcos (nome fictício), dizia : 

"- Não sei porque sou assim... Parece que dou sempre voltas em torno do que quero, sempre tomo o caminho mais longo, para nunca chegar a ele... Parece que sempre preciso "fazer algo antes"... Sempre tem algo dificultando, adiando, distanciando..."

Marcos é um caso típico de alguém que fica vivendo "em círculos" e não consegue realizar seus sonhos e desejos, pois é sabotado, mas sabotado por si mesmo, não pelo consciente mas pelo seu lado não-consciente, ou inconsciente. Mesmo tendo consciência da situação e de seus bloqueios inconsciente, ele não consegue mudar por si mesmo. 

"Somos de tal forma impregnados pelas associações sintagmáticas que utilizamos para decompor o mundo e, em seguida, recompô-lo que, muitas vezes, o novo é sentido como uma ameaça, pois nos obriga a reavaliar as representações que confortavam nossas angústias. É com dificuldade que abrimos mão de valores e teorias que nos têm sido tão caras para ler o real."(FREUD, 1917)

É preciso trabalhar seu processo psicodinâmico, na terapia para “desbloquear” esta auto sabotagem.

"...E nunca abandonamos de bom grado um modo de satisfação pulsional, ainda que um outro já nos acene"(FREUD, 1917)

Qualquer que sejam os caminhos que sua vida percorra, cedo ou tarde, você irá perceber que tanto as melhores oportunidades, quanto as maiores dificuldades estão em você e não nos outros.

É sempre mais fácil culpar aos outros e à vida por nossas desistências e fracassos e pela ausência de oportunidades. Mas o caminho mais fácil não é, necessariamente, o melhor caminho.

Quanto antes percebermos que nós mesmos sabotamos nossas possibilidades de felicidade, sucesso e prosperidade, melhores serão nossas chances de vitória, porque o tempo não para e a oportunidade não espera especificamente por você, mas por alguém com atitude suficiente para aproveitá-la.
É inquietante a incoerência humana. O homem destrói, com suas próprias atitudes, aquilo que mais ama e deseja. Matamos antecipadamente nossos sonhos por medo que eles não se realizem.

Quando estabelecemos um objetivo, uma meta ou um sonho, estamos no mundo da imaginação e do desejo, onde tudo é possível. Imediatamente quando começamos a caminhar para realizá-los entramos na estrada da realidade. E na dimensão da realidade, o sonho encontra as dificuldades.
Ao sentirmos a presença inicial da dificuldade e, prevendo que outras maiores virão, começamos a colecionar desculpas nobres para justificar o nosso possível fracasso na realização do sonho. Admitir um fracasso antecipadamente sem participar da luta para superá-lo é, de fato, o início do fracasso.

Aqui, exatamente aqui, frente às dificuldades iniciais, começamos a fazer amizade com o fracasso: começamos a nos auto sabotar. Imediatamente procuramos algo ou alguém para depositar a culpa pela não realização do sonho: são os pais, a companheira, o companheiro, o mundo, o mercado, o universo, o destino…

A verdade é que começamos a desistir logo no início da jornada. E essa desistência tem uma explicação simples: com medo de tentar muito e depois “morrer na praia”, abortamos o sonho. Preferimos trocar uma possível frustração futura, que julgamos ser maior, por uma frustração imediata menor.
E para enganar a nós mesmos usamos toda a nossa criatividade para desenvolver desculpas nobres que encubram nossas atitudes pobres.

Começamos a dizer:


- “Na verdade eu não queria isso tanto assim! Não tinha mesmo tanta importância…”.

- “Foi melhor que as dificuldades apareceram, não daria certo mesmo!”.

- “Ainda bem que as dificuldades me mostraram que isso não era pra mim, se realmente fosse às coisas seriam mais fáceis!”.

Mentimos escancaradamente para nós mesmos e para todos aqueles a quem não queremos decepcionar, alegando que desistimos de algo pequeno e sem importância, quando estamos desistindo do que tem mais importância: nossa disposição para lutar e vencer.

Queremos ser felizes, prósperos e obter sucesso, mas temos receio de não conseguir ou não manter essas conquistas. Observe as relações amorosas: com medo do abandono, acabamos por estabelecer relações tormentosas baseadas na cobrança excessiva, na agressividade, no ciúme, no controle e na manipulação. Tudo isso só nos aproxima mais rápido da perda e do abandono.
Esta é uma das mais profundas incoerências humanas, matar aquilo que mais desejamos alcançar e manter. Pare neste exato momento e reflita sobre atitudes que você está adotando que são absolutamente contrárias aos seus objetivos. Reflita sobre como você vem usando sua criatividade para encontrar desculpas nobres para atitudes pobres e pare de se auto sabotar.
A maior de todas as tolices é tornar-se seu próprio inimigo, lamentavelmente é também a mais comum.

A propósito: pare de se auto sabotar com esta culpa por ter se sabotado tanto até agora. Culpas não resolvem nossas vidas, agravam. Transforme a culpa em responsabilidade. Torne-se responsável em escrever uma nova história de agora em diante e de perceber e corrigir cada vez mais rápido qualquer deslize de sabotagem.

Quando caímos podemos ficar olhando para os limites impostos pelo solo ou dar a volta e olhar para o espaço infinito oferecido pelo céu, a escolha é nossa.
Quando perceber qualquer possibilidade de auto sabotagem, delete-a imediatamente. Somos os editores do nosso próprio destino, não permita publicar em sua vida nenhum parágrafo que diminua a beleza da sua história. Nenhum de nós deve passar pela vida sem “acontecer”.

A mudança e difícil, mas muito mais difícil é viver com a sensação de não ser autônomo, de não ser independente, de não poder conquistar coisas que desejamos, posições profissionais e familiares sadias e compensadoras. Ainda mais quando entendemos que a resolução destes bloqueios não estão tão distantes de nós, e que temos a chance de tomar as rédeas da vida e modificar nosso modo de ver o mundo, retomar nossos ideais e viver a real busca pela felicidade.